Chega de Saudade
A excitação máxima do ano, durante guiada memorável e MUITA Saudade. Birding, Música e Saudade
Lucas Ramiro
5/8/20243 min ler
Dias de Saudade
Para os naturalistas românticos algumas espécies (não só de aves) alimentam um imaginário que vai além da biologia, ecologia e etc. Vide Vanzollini grande compositor e zoólogo Brasileiro, sua obra me agrada muito (mais a musical)
Ao contrário da maioria dos observadores nunca fui atento aos números, pelas minhas contas contabilizo em torno de 1000 aves já binóculadas ou observadas e quase 400 fotografadas, Mas não sou sistemático quanto aos números...o que me interessa é a estória da espécie, peculiaridades, o ambiente, o contexto e simplesmente se cismo ou não com ela. Muitas vezes cismo com bichos comuns mas de distribuição ou hábitos peculiares - Talvez isso aconteça porque gosto de outros grupos taxonomicos, não só aves, acho que gosto mais de peixes de agua doce que aves, mas isso é pra outra hora - mas e a Saudade?
Essa é uma espécie de ave da família Cotingidae (Arapongas e bichos extravagantes, chatos de ver e que amam frutinhas) que vive em montanhas acima dos 1500 metros de altitude, pode ser um pouco mais pouco menos... o cenário em que esse passarinho vive é simplesmente um dos meus favoritos, montanhas de contos de fada, clima sempre bem frio, líquens, epífitas, filodendros, bromélias, campos de altitude e mares de morros quase sem fim - até dar em alguma propriedade privada ou plantação de eucalipto - já explorei exaustivamente esse tipo de ambiente e em especial com os amigos Francisco Menoret e Henry Miller, em busca de bichos que destoavam da nossa paisagem de nível do mar. Passamos inclusive muitos perrengues para ver a Saudade nos limites da cidade Ubatuba, aventuras épicas que todos deveriam encarar com diversão (se não fosse a intransigência dos parques que hoje tornam isso quase impossível, apesar de ser ótimo o nível de conhecimento que podemos trazer a luz durante essas expedições...mas retorno ao assunto para não falar de mais e ser cancelado pelo grupinho)
A vocalização é algo que me fisga nessa espécie (além do ambiente) e quem melhor a descreve é Ernst Holt que em 1928 relata : 'A primeira vez que ouvi seu canto foi impressionante (…). De súbito, pairou no ar límpido e rarefeito uma nota vibrante, um assovio prolongado e melancólico que subiu em tom e intensidade para logo decair num fiozinho de som , um lamento tão triste que mais parecia o grito de sofrimento de um ser da floresta …'”
Desde que ouvi a primeira vez fiquei profundamente intrigado, e como apreciador de músicas estranhas logo pensei no Guinga ou em uma bossa nova melancólica e também como esse nome ''saudade'' casa bem com a espécie, é o sentimento que esse bicho passa ao vocalizar naquele vasto ambiente de mares de morros.
Pausa para agradecer aos clientes Tzung e jenjen por acreditar e confiar no meu trabalho. Aos Irmãos Mello por sempre me ajudarem com dúvidas e também com indicações. Ao amigo Elton que ajudou na aventura como motorista para que pudesse dar total atenção aos clientes nessa pequena jornada de alguns dias.
Foto em Ubatuba com a especial montanha do cuscuzeiro ao fundo.


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